No dia seguinte, o rapaz chegou à praia, sentou-se ao lado da menina do mar e disse
Hoje tracto uma coisa da terra que é bonita e tem lá dentro alegria.
Chama-se vinho.
Quem o bebe fica cheio de alegria.
Enquanto dizia isto, o rapaz pôs ou na areia um copo cheio de vinho.
Era um daqueles copos muito pequenos que servem para beber licores.
A menina do mar pegou no copo com as duas mãos e olhou o vinho, cheia de curiosidade, respirando o seu perfume.
É muito encarnado e muito perfumado, disse ela.
Conta-me o que é o vinho.
Na terra, respondeu o rapaz, há uma planta que se chama videira.
No inverno parece morta e seca, mas na primavera enche-se de folhas e no verão enche-se de frutos que se chamam uvas,
que crescem em cachos.
E no outono os homens colhem os cachos de uvas e põem-nos em grandes tanques de pedra,
onde os pisam.
Até que o seu sumo escorra e é esse sumo dos frutos da videira que chamamos vinho.
Esta é a história do vinho, mas o seu sabor eu não sei contar.
Bebe, se queres saber como é.
E a menina bebeu o vinho, riu-se e disse
É bom e é alegre.
Agora já sei o que é a terra.
Terra, agora já sei o que é o sabor da primavera, do verão e do outono, já sei o que é o sabor dos frutos, já sei o que é a frescura das árvores, já sei como é o calor de uma montanha ao sol, leva-me a ver a terra, há tantas coisas que eu não sei, o mar é uma prisão transparente e gelada, no mar não há primavera, nem outono, no mar o tempo não morre,
as anémonas estão sempre em flor e a espuma é sempre branca, leva-me a ver a terra, amanhã trago um balde e encho com água do mar e algas e tu pões-te dentro do balde para não secares e eu levo-te comigo a ver a terra, amanhã vou contigo dentro do balde de água e vou ver a tua casa e vou ver o teu jardim.
Música
E assim o rapaz e a menina do mar passaram o resto da manhã a fazer planos para a aventura do dia seguinte, até que a maré subiu e o rapaz foi-se embora.